Tendências

O que é recession core? Entenda como moda, política e economia se encontram no cenário mundial

Talvez você já tenha ouvido o termo recession core por aí. Mas, ao contrário de outros ‘core’, como o barbiecore, gorpcore ou mermaidcore, essa “tendência”, se é que ela pode ser chamada assim, vai muito além da estética.

Traduzido para o português, recession core seria algo como ‘tendência da recessão’. Pois é, a moda invariavelmente é um reflexo da política e da economia, e por isso esse momento que observamos na indústria não deve ser tratado como somente uma tendência de vestuário. Entre guerras e tensões políticas, aumento da concentração de renda e desigualdades sociais e a emergência climática, há um tempo economistas têm alertado sobre uma possível recessão econômica mundial. E sob a constante e muito real eminência de uma crise, a moda tem, naturalmente, reagido.

Essa reação, tanto estética quanto no business, tem se expressado de diversas formas. Um dos primeiros sinais detectado por internautas e tiktokers no início do ano veio direto dos tapetes vermelhos. As celebridades estavam deixando de lado os colares vistosos de seus looks de red carpet, optando por deixar o colo nu, combinado a joias pequenas e discretas apenas nas orelhas. Por que isso é um sinal de recessão? Bom, podemos combinar que não é de bom tom ostentar em momentos de crise, certo? Por isso, as joias, que são signo clássico do luxo e da opulência minguam para modelos mais discretos e minimalistas.

Recessões tendem a empobrecer os mais pobres e enriquecer os mais ricos, e com um mundo cada vez mais consciente e crítico às celebridades e as grandes fortunas (vale lembrar da recente desaprovação aos nepobabies), todo mundo está mais ciente que esbanjar riqueza pode não ser uma boa ideia. Enquanto os menos abastados se vestem de forma mais modesta por necessidade, os super-ricos o fazem para passar despercebidos.

Não a toa, na temporada de inverno 2023, um dos termos mais ouvidos e falados foi o quiet luxury, ou, em tradução, luxo silencioso. O “quiet luxury” diz respeito as roupas de luxo que não gritam ou fazem barulho – esqueça os monogramas e logotipos e aposte na ideia do “quem-sabe-sabe”. O luxo silencioso também vem como uma forma ‘menos agressiva’ de continuar consumindo luxo em períodos conturbados, usando peças que chamam menos a atenção.

Isso também se fez presente nas passarelas. Se na coleção de verão 2023 a Balmain criou um festival e convidou a Cher para entrar na passarela, na temporada seguinte a apresentação foi intimista e sem artifícios externos. O show ficou por conta das roupas. Isso foi frequente em diversas marcas na temporada.

Outro fator estético que acendeu os alertas do recession core foi a tendência dos infláveis. Diversas marcas como Prada, Rick Owens (e como não mencionar as botas vermelhas da MSCHF que tomaram nossos feeds no último mês) apresentaram criações “acolchoadas”, sejam nas passarelas ou no ready-to-wear, com aspecto inflável e lúdico. Para influenciadores e comentaristas de moda nas redes sociais, a associação entre a inflação e peças infláveis é clara. Mas o buraco também pode estar mais embaixo, nesse caso. Neurologicamente, nossa mente tende a se sentir mais confortável e segura com formas arredondadas e fofas, em comparação com arestas retas e rígidas. Nesse caso, os infláveis podem vir como uma tentativa de criar alguma sensação de conforto ou segurança em meio ao caos. Vale lembrar que no auge da pandemia, a moda também inflou-se em peças volumosas como uma forma de interpretar o conforto e distanciamento social.

Até mesmo os metalizados, que tem marcado um retorno pontual, são sinal disso: outros momentos em que eles estiveram tão em voga, foram no bug do milênio e na crise de 2008. Coincidência?

Parece estranho tratar o real problema de uma iminente recessão econômica a nível mundial como mais uma estética passageira das redes sociais. Mas talvez exista alguma busca por conforto e segurança em envelopar isso como uma tendência, porque assim como as trends, ela também pode passar rapidamente.

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