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Circularidade e transparência impulsionam avanços no setor da moda

Enquanto a sustentabilidade ainda representa um grande desafio para grandes marcas de moda, não se pode negar os esforços e tentativas para que seus modelos de negócio e, principalmente, suas cadeias produtivas sejam repensadas. Relevantes organizações com atuação global, como a Fundação Ellen MacArthur e o Fashion Revolution, desenvolvem ações, como o projeto The Jeans Redesign e o relatório Índice de Transparência da Moda, das organizações citadas respectivamente, para incentivar que as transições do setor ocorram com eficiência e rapidez.

O Fashion Revolution acredita que transparência é o primeiro passo, pois sabendo onde estão as lacunas problemáticas, é mais possível atuar de forma mais direcionada. De qualquer forma, mesmo o relatório estando nas sua oitava edição, o progresso em termos de transparência na indústria global da moda ainda é lento entre as 250 maiores marcas e varejistas do mundo.

O Índice de Transparência da Moda 2023 foi lançado este mês, mesmo mostrando avanços, ainda revela a falta de transparência em várias áreas cruciais. Um dado positivo é que pela primeira vez, mais da metade das principais marcas de moda divulgaram suas listas de fornecedores de primeiro nível. No entanto, a pontuação média geral na seção de rastreabilidade é de 23%, sendo que quase metade das marcas fornecem poucas ou nenhuma informação, apresentando uma pontuação geral de apenas 1% nessa seção.

O Índice avalia e classifica com base nas informações que as marcas divulgam publicamente sobre suas políticas, práticas e impactos sociais e ambientais em suas operações e cadeia de suprimentos. Este ano, mais do que nunca, marcas de luxo estão divulgando suas listas de fornecedores e cinco delas registraram maior aumento em sua pontuação em comparação com o ano passado, aumentando em até 21%, o que mostra maior envolvimento das marcas de luxo na pauta da sustentabilidade. Uma lamentável parcela de 1% das principais marcas de moda informa o número de trabalhadores em suas cadeias de suprimentos que recebem um salário digno, dado que reforça que ainda as pessoas que fazem as roupas são as mais prejudicadas no setor.

Já o projeto The Jeans Redesign, da Fundação Ellen MacArthur, que vem desenvolvendo em parceria com grandes marcas globais mais de um milhão de jeans circulares, estabeleceu um padrão mínimo para garantir que as peças de roupa sejam produzidas de acordo com os princípios da economia circular. O relatório final do projeto revelou resultados impressionantes. Cerca de 70% dos participantes conseguiram superar os desafios de design e inovação para atender às diretrizes estabelecidas.

Um ponto interessante é que mais de um terço das marcas participantes aplicaram os princípios do design circular não apenas aos jeans, mas também a outras peças de vestuário, como jaquetas, camisas, bolsas e chapéus. Além disso, mais de dois terços dos participantes adotaram modelos de negócios ou serviços voltados para a manutenção e reutilização dos jeans, incluindo aluguel, revenda e reparo. Estes casos de sucesso podem servir como exemplos para a indústria sobre como adotar o design circular para garantir que os jeans sejam utilizados por mais tempo, sejam produzidos de forma mais sustentável e possam ser reciclados.

Ambos os relatórios destacam a importância das políticas públicas para criarem condições equitativas e acelerar a mudança. O The Jeans Redesign enfatiza a necessidade de implementar medidas que estipulem critérios mínimos para os produtos e que garantam que os verdadeiros custos das roupas sejam considerados, incluindo aqueles relacionados às mudanças climáticas, poluição, perda de biodiversidade e principalmente garanta condições dignas para os trabalhadores do setor.

Ainda é preciso trilhar um longo caminho para que a moda esteja de fato atrelada ao desenvolvimento sustentável, porém, com transparência para se enxergar os erros e com estratégias que visam modelos de negócios mais circulares e regenerativos, é possível ter uma direção. É hora de celebrarmos os avanços, mas também cobrar por maior comprometimento das marcas e do poder público, afinal, para a mudança acontecer de forma sistema e radical, é preciso da participação de todos.

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