Os FIDCs e a antecipação de contratos com entes públicos formam uma alternativa relevante no mercado de capitais para empresas que fornecem bens ou serviços ao setor governamental. Por meio desse mecanismo, recebíveis oriundos de contratos administrativos podem ser transformados em ativos negociáveis, oferecendo liquidez imediata às companhias e oportunidades diferenciadas de investimento. O especialista Rodrigo Balassiano ressalta, porém, que essa modalidade de operação envolve riscos políticos e operacionais que exigem análise criteriosa, já que eventuais falhas de execução ou instabilidade governamental podem comprometer o resultado esperado.
O funcionamento da antecipação de contratos com entes públicos
A antecipação ocorre quando créditos resultantes de contratos administrativos, como fornecimento de insumos ou prestação de serviços, são cedidos ao FIDC. O fundo, então, antecipa o valor à empresa credora e passa a receber os pagamentos diretamente do ente público contratante. Esse modelo transmite a percepção inicial de solidez, já que os contratos costumam estar vinculados a órgãos governamentais. Contudo, a operação é complexa, pois demanda observância rigorosa de normas legais, análise jurídica aprofundada e controles que assegurem a regularidade dos recebíveis.

Risco político nas operações com entes públicos
O risco político é um dos pontos mais críticos nesse tipo de operação. Alterações de governo, revisões de orçamento, contingenciamentos ou mudanças de prioridade podem afetar a regularidade dos pagamentos devidos ao fundo. Há também o risco de disputas judiciais ou de entraves burocráticos que retardam a liquidação dos créditos. De acordo com Rodrigo Balassiano, a mitigação desse risco exige due diligence completa, avaliando histórico de pagamentos do ente público, capacidade fiscal e contexto político em que o contrato está inserido.
Risco operacional e complexidade regulatória
Além do fator político, os riscos operacionais são igualmente relevantes. O processo de cessão de recebíveis públicos deve seguir regras legais específicas e contar com documentação adequada para garantir a titularidade dos créditos. A ausência de registros formais pode gerar questionamentos futuros. Também há a dependência de uma boa integração entre ente público, empresa cedente e fundo, para que os fluxos de caixa sejam previsíveis. Conforme Rodrigo Balassiano, falhas administrativas ou atrasos na tramitação dos pagamentos impactam diretamente a performance do fundo e elevam o risco de inadimplência.
Governança e mitigação de riscos nos FIDCs
A governança sólida é essencial para reduzir a exposição a riscos políticos e operacionais. Políticas de seleção criteriosa dos contratos, com avaliação da solidez do ente público e de sua regularidade fiscal, ajudam a garantir maior segurança. Auditorias independentes, cláusulas de reforço de crédito e monitoramento contínuo dos recebíveis fortalecem a confiabilidade da operação. Além disso, a diversificação da carteira é importante para que o fundo não fique excessivamente dependente de um único contrato ou devedor público.
Impactos para investidores e empresas credoras
Para as empresas fornecedoras do setor público, a antecipação de recebíveis via FIDC representa uma forma estratégica de obter liquidez imediata, liberando capital para expansão e investimento em novas oportunidades. Já para os investidores, trata-se de uma chance de acessar ativos com retornos diferenciados, embora associados a riscos que não podem ser ignorados. A transparência na comunicação sobre os riscos políticos e operacionais é decisiva para fortalecer a confiança do mercado.
Considerações finais
Os FIDCs e a antecipação de contratos com entes públicos unem vantagens expressivas a desafios significativos. Os riscos políticos, relacionados à instabilidade governamental, e os riscos operacionais, ligados à complexidade regulatória e documental, precisam ser tratados com rigor. Com governança adequada, compliance sólido e monitoramento constante, é possível estruturar operações mais seguras e previsíveis. A experiência demonstra que, quando esses elementos estão presentes, os FIDCs podem se consolidar como instrumentos eficientes para empresas e investidores que buscam explorar oportunidades no setor público.
Autor: Mibriam Elhora